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O bônus do investimento

O Brasil deve receber neste ano US$ 75 bilhões de investimento estrangeiro direto, segundo projeção do Banco Central (BC), ou US$ 70 bilhões, de acordo com estimativa de instituições financeiras e consultorias. Qualquer das duas quantias cobrirá mais que o dobro do buraco na conta corrente do balanço de pagamentos, se o déficit de US$ 28 bilhões indicado no cenário do BC for confirmado no fim de 2017. Depois de quase três anos de recessão, a maior da história republicana, o País tem atraído mais capital estrangeiro que outros emergentes incluídos em 2014 na lista dos “cinco frágeis”, termo criado pelo banco Morgan Stanley. África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia completam o grupo considerado, há algum tempo, o mais vulnerável à variação dos juros e do câmbio das moedas de grandes potências.

O investimento direto – capital destinado à atividade empresarial – é em geral considerado mais útil e mais seguro que a poupança externa aplicada no mercado financeiro. As duas formas podem ser bem-vindas, mas a aplicação financeira tende a ser mais especulativa, mais instável e, portanto, menos confiável, porque pode sair a qualquer momento. Além disso, grandes fluxos especulativos podem provocar forte instabilidade cambial, dificultando o planejamento e a condução dos negócios. Por mais de uma razão, o investimento direto é considerado a melhor cobertura para os déficits nas transações correntes do balanço de pagamentos.

As transações correntes incluem a balança comercial (exportação e importação de bens) e as contas de serviços e de rendas. Esse conjunto é normalmente deficitário no Brasil. O saldo comercial, em geral positivo, é quase sempre insuficiente para compensar o déficit em serviços e rendas.

Um déficit moderado na conta corrente pode favorecer o crescimento econômico, porque a cobertura proporcionada pelo capital estrangeiro aumenta o volume da poupança disponível e permite maior investimento produtivo.

Em 2013 e 2014, no entanto, o saldo comercial declinou severamente, com as importações infladas pela excessiva expansão do consumo. Nesses dois anos, o déficit em conta corrente atingiu níveis muito altos (US$ 81,4 bilhões e US$ 91,3 bilhões) e o investimento estrangeiro direto (US$ 64 bilhões e US$ 62,5 bilhões) foi insuficiente para cobrir o buraco. Com a recessão, a inflação ainda alta e a perda de renda dos brasileiros, a importação de mercadorias e outros gastos declinaram. Em 2015 o investimento direto, de US$ 75,1 bilhões, compensou com folga o déficit de US$ 58,9 bilhões. O ingresso em 2016 deve ter chegado a US$ 78,8 bilhões, enquanto o déficit continuou a encolher. Neste ano, a importação deve aumentar e o superávit comercial (cerca de US$ 48 bilhões em 2016) deverá diminuir para US$ 44 bilhões, nas contas do BC. O déficit em conta corrente poderá ir a US$ 28 bilhões, mas a cobertura está mais que garantida.

Mas como explicar o atrativo do Brasil, com a economia ainda fraca, problemas enormes nas contas públicas, graves tensões políticas e a assustadora lista de revelações da Operação Lava Jato?

Segundo especialistas citados pelo Financial Times, de Londres, os problemas políticos e a incerteza econômica da Turquia superam os de todos os outros “frágeis”. Brasil e África do Sul são considerados mais atraentes. Analistas mencionados em reportagem do Valor apontam outros detalhes interessantes. China e Índia, duas economias dinâmicas, são destinos também atrativos. Mas investidores já aplicaram muito na China e têm interesse em diversificar. No caso da Índia, há complicações religiosas e culturais. Além de tudo, muitos ativos brasileiros estão baratos, depois de anos de recessão e também por causa dos esforços de ajustes de grandes empresas, como a Petrobrás. Parte do investimento direto corresponde, naturalmente, à reaplicação de recursos de empresas já instaladas no Brasil. Há, portanto, uma aposta na recuperação. Para o governo, qualquer aposta desse tipo é um bônus, quase uma graça. Desperdiçar esse bônus, com erros políticos ou fraqueza, seria quase um sacrilégio.

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